Estresse recorrente pode gerar bruxismo; ingestão de comidas muito ácidas pode causar corrosão; veja outras causas e consequências dos hábitos diários e a saúde bucal
Todo mundo sabe que nosso corpo é reflexo daquilo que ingerimos. Quem nunca ouviu aquele ditado popular: “você é o que você come”?
Seja na balança, na estética e também em relação à saúde, quanto piores os hábitos em relação à alimentação, ao sono e à mente, piores os resultados em todos os âmbitos da vida. Mas o que pouca gente sabe é que até hábitos de pessoas ditas saudáveis podem influenciar negativamente na saúde, incluindo a bucal.
É conhecido que ingerir muito açúcar, presente nos doces e refrigerantes, pode desgastar os dentes e aumentar a incidência de cáries.
Mas um grupo de pessoas que, apesar de ter uma alimentação saudável e bons hábitos de vida, sem excessos de doces, alimentos pigmentados ou ingestão de álcool, tem a saúde bucal prejudicada, com princípios de corrosão dentárias.
O problema? O excesso de acidez e maus hábitos.
Não é uma regra, mas estudos apontam que a ingestão diária de certos componentes pode agredir não só o corpo, como a arcada dentária.
“Uma dieta mais ácida e o ranger dos dentes são algumas das causas da corrosão dos dentes. É preciso estar atento a isso, mesmo entre as pessoas que cuidam da alimentação e praticam atividades físicas”, alerta o dentista em Curitiba Sergio Correia.
Diagrama de acidez
Esta imagem mostra os resultados parciais do mapeamento de pH e a capacidade de neutralização da saliva referente a algumas bebidas e produtos de consumo da população brasileira (autores citados no topo da imagem). Ela indica quão agressivos alguns alimentos podem ser para os dentes.
Em dietas entendidas como saudáveis, como a ingesta de água com limão em jejum, somente a saliva demora horas para neutralizar a boca. Lembrando que quanto menor o pH, maior o grau de acidez.
“Imagine uma pessoa que faz isso todos os dias e, na sequência, escova os dentes. O desgaste e a corrosão são certos, pois fica ácido em cima dos dentes, e o creme dental com mais ácido chega logo na sequência, causando a corrosão e as lesões”, esclarece o dentista, que trata das lesões não cariosas em seu consultório.
Grupos específicos propensos à corrosão dentária
Esportistas
Atletas de alta performance e pessoas que seguem dietas esportivas, com uso de isotônicos, whey protein, géis de carboidrato, entre outras substâncias altamente ácidas.
O uso de água com limão em jejum também é frequente neste grupo, além de nadadores que treinam em piscinas com altas doses de cloro diariamente.
Sono e a saúde mental
Pessoas que têm problemas no sono, como apneia, bruxismo (que afeta cerca de 20% da população) ou que rangem os dentes também podem ser acometidas pela corrosão dos dentes.
Quem sofre de apneia é mais propenso a ter refluxo, uma inflamação no esôfago causada a partir da acidez do suco gástrico, que funciona na digestão dos alimentos. Com o excesso de produção desse suco, ele retorna para a boca e se acumula na superfície dos dentes. Com isso, a dentição fica exposta a esse ácido.
Já os distúrbios emocionais, que exigem o uso constante de certos medicamentos, como antidepressivos, ou o simples fato de apertar os dentes em momentos de nervosismo e tensão, também resultam no desgaste dental.
O que fazer?
Como vimos, nem mesmo as dietas ditas saudáveis de atletas estão a salvo de problemas bucais causados pelos ácidos. Não é preciso deixar de ter uma vida saudável para não ter problemas com a saúde bucal, porém adaptar os hábitos diários já pode auxiliar a minimizar os problemas.
Veja alguns exemplos de ações para neutralizar o pH:
– Ao acordar, antes de escovar os dentes, faça um bochecho apenas com água ou beba um copo de água em jejum.
– Escove os dentes da forma correta e completa. O fio dental é um termômetro importante de sua saúde bucal: se, ao passá-lo, há sangramento na gengiva, pode ser indicativo de que a escovação não está sendo feita da forma adequada ou de problemas mais graves.
– Para casos de distúrbios gástricos, procure os profissionais especializados para realizar tratamento e acompanhamento.
– Já nos emocionais, tente adotar a meditação e a respiração pausada para se tranquilizar nos momentos mais tensos.
– Utilize aplicativos como “Desencoste”, que alerta para afastar os dentes de tempos em tempos.
Existem outros inúmeros fatores relacionados aos hábitos e à saúde bucal, mas, com cautela, sem exageros e sem estresse, é possível evitar o desgaste provocado por esses citados acima.
Outros hábitos prejudiciais
É consenso que a saúde bucal é reflexo dos cuidados diários, especialmente o ato de escovar os dentes da forma correta e na frequência adequada, ao menos três vezes ao dia. No entanto, outros hábitos do dia a dia podem ser extremamente prejudiciais, contribuindo para lesões e para o desgaste dos dentes.
Listamos, abaixo, alguns hábitos que muitas pessoas desconhecem e são prejudiciais à saúde do dente.
Palito de dentes não serve para limpeza
Qual família não tem aquele que acaba a refeição e sai logo procurando um palito de dente?
O fato é que os palitos devem ser usados para espetar alimentos e não para “limpar” os dentes. Para acessar os locais mais complexos, deve-se usar o fio dental.
O uso dos palitos, ao contrário do que se pensa, é mais prejudicial do que benéfico. O contato dos dentes com substâncias externas pode machucar a gengiva, causar o desgaste dos dentes, assim como afetar a sua estrutura dental.
Abrir embalagens com os dentes
Abrir aquele saquinho de temperos, garrafas de água, pacotes e embalagens em geral com os dentes é algo muito comum de ser observado.
Fato é que, para obter sucesso nesta empreitada, é preciso utilizar de uma força excessiva, o que pode afetar a estrutura dentária, causando dores temporárias ou até casos mais graves, como fraturas e trincas. É mais fácil, conveniente e seguro usar uma tesoura ou outros instrumentos para abrir pacotes e embalagens.
Morder tampas de canetas ou outros objetos plásticos
Hábito comum nas escolas e faculdades e que, para muitos, é até imperceptível, pode ocasionar disfunções articulares e musculares na mandíbula, especialmente se for realizado com muita frequência.
A mastigação constante do plástico também pode causar pequenas lesões, desgaste dos dentes e estresse excessivo em sua estrutura.
Roer a unha
Assim como morder a tampa de caneta, o ato exige demais das articulações e músculos responsáveis pela mastigação.
Como a unha é uma superfície dura, suas lascas podem causar lesões e fraturas nos dentes e, em casos mais graves, no encurtamento da raiz do dente – chamado de reabsorção radicular externa.
Muita calma com alimentos mais duros
Balas, torresmo, rapadura, amendoim, entre outros, exigem muito cuidado na hora de ingeri-los. Em casos mais graves, podem ocorrer fraturas dentárias simples, moderadas ou graves. Se o alimento estiver muito duro, para que abusar da sorte?
“Não é necessário mudar totalmente os hábitos, mas minimizar os riscos dos ácidos nos dentes é imprescindível para evitar a corrosão dentária e a formação de lesões cervicais não cariosas, entre outros problemas. Além disso, é imprescindível acabar com os vícios que prejudicam os dentes”, comenta Correia.
Precisa de uma avaliação dos seus dentes ou utiliza muitos alimentos ácidos e gostaria de outras opções? Agende um horário e converse sobre as suas possibilidades.